quarta-feira, 11 de junho de 2008

Esquerdas no poder na América Latina


De acordo com a cientista política Céli Regina Pinto, nunca a América Latina teve tantos governos alternativos às estruturas antigas de poder. “E o Brasil, com o Partido dos Trabalhadores, foi inaugural neste panorama, seguido de todos os outros.” Na Argentina, Néstor Kirchner (2003); no Uruguai, Tabaré Vásquez (2005); no Chile, Michelle Bachelet (2006); na Bolívia, Evo Morales (2006); na Venezuela,

Hugo Chávez (2000 e 2006); no Equador, Rafael Correa (2007).
Céli, que é professora do Departamento de Ciências Políticas do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da UFRGS, destaca o desenvolvimento de bolsões de pobreza nos últimos anos como um dos aspectos importantes para o estabelecimento do atual quadro político. “O empobrecimento resultou do radicalismo neoliberal, e é justamente o aprofundamento desta desigualdade que une as esquerdas latino-americanas em torno de um único objetivo: superar o profundo fosso entre os ricos e os pobres.”

Mas os novos governos têm características muito próprias e podem ser classificados em três tipos de esquerda: a partidária, a populista e a dos movimentos sociais. No primeiro segmento, Céli inclui o Brasil, a Argentina e o Chile; no segundo, a
Venezuela; e, no terceiro, Bolívia e Equador.

“Entretanto, não é possível comparar Bachelet e Kirchner: enquanto a presidente do Chile vem de um partido socialista de um país com traços muito específicos, o representante argentino não tem tradição de esquerda.” Céli afirma que Kirchner foi um candidato inexpressivo, tendo chegado ao poder com apenas 20% dos votos. Quanto a Lula, ela considera que seu governo é de centro-esquerda, ainda que o PT tenha sempre se apoiado em movimentos populares, como o Movimento dos Agricultores Sem Terra (MST).

Para a cientista política, Hugo Chávez é um militar que não conseguiu dar um golpe de estado, mas acabou se elegendo em um momento favorável à Venezuela. Em função das guerras no Oriente Médio, principalmente no Iraque, o preço do petróleo foi às alturas, e Chávez ficou numa posição propícia para fazer políticas sociais e tornar-se popular. Ele está criando o chavismo, assim como, no passado, outros governos populistas criaram suas siglas: justicialismo de Juan Perón/Argentina e aprismo de Haya de La Torre/Peru.

Tais características de Chávez o distanciam do processo boliviano, “pois Evo Morales é um representante de movimentos sociais pobres, principalmente dos cocaleros”. Segundo Céli, sempre que existe base de militância – seja partidária ou de movimentos sociais – está nascendo um líder popular, mas nem todo líder popular é populista. Nesse sentido, ela arrisca afirmar que o presidente eleito no Equador, Rafael Correa, é um fenômeno semelhante a Evo Morales. “Tem o apoio do Movimento Pachakutik, da Esquerda Democrática e do Movimento Popular Democrático, e quer convocar uma nova constituinte.”

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